Docência, Advocacia e Ciências Criminais.
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“Eu sou apaixonado pela sala de aula. Eu digo que sou professor e advogado nas horas vagas. Mas se eu pudesse escolher entre ser professor e advogado, eu escolheria ser professor em tempo integral, não tenham dúvida disso!”
- Professor Welton Roberto, em entrevista ao podcast Pelos Ouvidos da FDA (2021).
PhD pela universidade de Pavia da Itália em Justiça Penal Internacional, Doutor em Processo Penal pela UFPE, Mestre em Processo Penal pela UFAL, professor adjunto de Direito Penal e Processo Penal na graduação e na pós-graduação da UFAL, advogado criminalista, membro efetivo da Comissão Especial de Estudo da Reforma do CPP do Conselho Federal da OAB, escritor e palestrante, Welton Roberto foi mais um dos convidados para a construção do memorial digital em comemoração aos 90 anos da Faculdade de Direito de Alagoas.
Por que o Direito?
“O Direito me escolheu”, afirma o professor. Apesar de ter um encanto especial pelo curso de Jornalismo, que chegou a cursar por 3 anos, foi no Direito que Welton decidiu fazer carreira. Advogado criminalista, ele relata que, em sua época de graduação, era o Direito Penal que despertava seu profundo entusiasmo. Hoje, se encontra realizado na área das ciências criminais e conta que o interesse pela área surgiu graças à paixão anterior pelas liberdades: “[...] Sempre achei que fosse essencial você desenvolver algo que realmente pudesse ser marcante na advocacia”, disse Welton.
ADVOCACIA
“É preciso ter muita coragem!"
Enquanto advogado, para Welton é preciso ter coragem para enfrentar a sociedade, a mídia, a opinião pública e, muitas vezes, para enfrentar os próprios colegas que acabam confundindo o caso com aquilo que defende. Contudo, ele esclarece que é preciso uma coragem cívica, profissional, que não se confunda com a loucura.
Ao escolher a advocacia para sua vida, Welton relata ter encontrado resistência dentro de sua própria casa. O pai do PhD em Justiça Penal, que não aceitava a preferência pela carreira como advogado criminalista à carreira de juiz, passou dois anos evitando contato com o filho. Isso mudou apenas quando Welton o convidou para assistir um júri no qual venceu por sete votos a zero, finalmente convencendo o pai da sua vocação para a área.
Quando questionado sobre como acha que consegue transmitir o diferencial de ser um profissional atuante na área que leciona, o docente afirma que apenas o consegue fazer por acreditar no que diz. “Quando eu acredito que é através do Direito, que é através da garantia das liberdades, que é através da humanização que a gente tem que ter um com o outro, eu acredito que estou sendo sincero e consigo passar isso”, explica. Welton também destaca que, para transmitir corretamente a paixão pela área, deve existir uma satisfação pessoal no campo em que se atua. Se a motivação principal for o dinheiro, alerta Welton, essa satisfação dificilmente surgirá.
DEMOCRACIA
Defensor da liberdade de pensamento, o docente relembra o movimento das "Diretas Já!" e demonstra preocupação com as manifestações contra a democracia, especialmente quando feitas por gerações que nunca vivenciaram uma ditadura. Welton alega que consegue manter o diálogo saudável com liberais, social-liberais, socialistas e outros defensores de diferentes pontos de vista, mas recusa a interação com defensores de ditaduras, sejam elas de esquerda ou direita.
“Nenhuma ditadura é bem-vinda no processo de aprendizado humano-social.”
Incisivo em seus posicionamentos, o advogado explica que, para manter sempre o bom embasamento em suas defesas, é preciso de muita leitura e muita instrução, principalmente quando se tem um pensamento destoante do que é adotado pela maioria das pessoas. A chave para o pensamento crítico, para Welton, está no ato de questionar.
“[...] Sempre questionei tudo e digo sempre para os meus alunos: questione tudo!”
LEITURA
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Welton é criador do projeto “Livro Na Rua”, que distribui livros pelas ruas da capital alagoana de graça. Ele conta que a inquietude que o fez desenvolver o projeto surgiu depois da descoberta de que Maceió é a 2º capital que menos lê no Brasil. “Aquilo foi quase um soco na minha cara, porque eu amo leitura, eu amo ler!”, relata o professor.
O que começou com uma ideia de comprar 100 livros para distribuição gratuita ganhou força e, graças a doações e novos colaboradores, até fevereiro 3 mil livros já haviam sido distribuídos. “Eu recebi uma doação de 8 mil livros para distribuir para toda Maceió, estou só esperando a pandemia passar para distribuir”, expõe.
ITÁLIA
“A Itália me fez um bem em mostrar exatamente de que forma que efetivamente você deve desenvolver o aprendizado (...)”
Com 660 anos de idade, a Universidade de Pavia foi local de formação de nomes como Cesare Beccaria e Welton Roberto. O PhD em Justiça Penal Internacional relata com admiração a vivência intensa dos alunos da universidade italiana, com horas de dedicação exclusiva para os estudos. Diferente do Brasil, o professor diz enxergar nos estudantes italianos uma enorme "coragem acadêmica", isto é, uma insaciável sede de conhecimento. Segundo Welton, "Pavia trouxe luminosidade para compreender como deve ser o ensino".
“Não é ter complexo de vira-lata, é aprender com quem já foi à frente, aprender com quem tem mais tempo do que a gente.”
Depois da experiência no exterior, procura estimular os alunos da FDA a entender uma nova concepção de estudo, desenvolvendo uma formação com excelência. Para isso ele propõe novos professores, novos livros, novas doutrinas, ampliando os horizontes de seus discentes e reformulando suas experiências acadêmicas.
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DOCÊNCIA
“O bom professor, o grande professor, não tem apenas que passar para você tudo o que ele conhece, porque às vezes é impossível, mas ele tem que plantar em você a semente da inquietude."
O aluno é descrito por Welton como uma página em branco para o professor desenhar com seu conhecimento e deve ser um desenho colorido, belo, uma grande obra de arte na exposição da vida. Em sua época de graduação, o Doutor afirma que achava as aulas extremamente tediosas e diz que desde esse tempo já sabia que suas aulas não seriam como as que teve. Na pandemia, o professor revela começar as aulas colocando música. “AC/DC” e “Guns n Roses” são suas escolhas favoritas. Ele exibe vídeos, instiga o debate, buscando sempre o dinamismo. O docente destaca a importância da proatividade do aluno, que sempre deve buscar mais conhecimento. Exemplo disso foi a criação da Liga Acadêmica de Ciências Criminais (LACC), criada em 2015 por provocação de Welton, que orienta a Liga até hoje. Além disso, o professor faz alusão as alusões as aulas práticas na Central de Flagrantes para mostrar a realidade com a qual os discentes lidarão como operadores do Direito e trabalhos em sala de aula com intuito de divulgar conhecimento jurídico em redes sociais e em escolas públicas, difundindo conhecimento através dos alunos.
Ainda no sentido da liberdade e proatividade acadêmica, Welton enxerga os projetos de extensão como uma grande oportunidade de fazer a diferença como estudante de Direito ainda na graduação, adquirindo experiências que a teoria apenas jamais poderia oferecer. Welton também menciona o papel pessoal de cada indivíduo como transformador da sociedade. Para o estudante de direito, é importante ser protagonista nessa mudança, afinal, o aluno de universidade pública está ali por investimento da sociedade e deve retribuir promovendo efetivas modificações na mesma.
Em suas considerações sobre a Faculdade de Direito de Alagoas, descreve o espaço acadêmico como “um lugar muito bacana, de alegria, de muito conhecimento e de libertação através do conhecimento”. Para Welton, o corpo discente é o que há de melhor na Universidade, sempre encontrando caminhos para surpreender o corpo docente, com um sentimento de pertencimento que ele torce que passe pelas gerações, mesmo com as dificuldades inerentes ao ensino público.
“Leiam muito. Leiam muito e leiam tudo. Não tenham preconceito com nenhum tipo de leitura. Mas, também, questionem tudo o que estão lendo, não aceitem tudo. (...) Escreva muito, faça com que sua escrita seja também um hábito. (...) Se dediquem. (...) E não se assustem, se deixem transformar pelo curso de Direito...”
- Professor Welton Roberto em entrevista ao podcast Pelos Ouvidos da FDA (2021), quando questionado sobre qual conselho daria aos calouros do curso de Direito.
“É exatamente na adversidade que você consegue fazer a sua maior prova. É aquela história, em um banquete em que você tem vinte coisas para comer você até fica muito tranquilo e saciado com qualquer coisa, mas na escassez é onde você vai ter que buscar sua maior criatividade, a sua maior força interna.”
- Professor Welton Roberto em entrevista ao podcast Pelos Ouvidos da FDA (2021), quando questionado sobre qual conselho daria para os acadêmicos que desejam seguir carreira na docência mesmo com a escassez de estímulos.
"Quem salvou minha carreira foi um professor!"
- Professor Welton Roberto em entrevista ao podcast Pelos Ouvidos da FDA (2021), relatando história da sua época de graduação.
Todas as falas e citações foram retiradas da entrevista com Welton Roberto para o podcast Pelos Ouvidos da FDA (2021). Para conferir a entrevista completa e ouvir esse e mais episódios, acesse aqui.
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